Sitios

                         Monumentos e Lugares de S. Pedro da Torre


                                                                   Torre da Igreja
                                                             Aqueduto da Fonte Santa
                                                                          Cruzeiro central
                                                                    Cruzeiro da Lagoa
                                                                   Altar da Igreja de S. Pedro
                                                                        Ponte medieval
                                                                  Cruzeiro de Chamosinhos

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                                                         ÁGUAS DE S. PEDRO DA TORRE


                                                               FONTE  SANTA


Indicações

Dermatoses tórpidas, escrofuloses (Correia, 1922)
Dermatoses descamativas (Contreiras, 1951)
Quanto à utilização terapêutica em doenças de estômago e fígado o povo prefere a fonte do Canucho. Em doenças de pele, realmente a fonte santa é superior à do Canucho” (Almeida, 1988, 371)
As pessoas vinham para doenças de pele e curavam-se bem (informante).
Onde é a outra… mas chamam-lhe água férrea, é nesse quintal dali. Tem ali um tanque, duma água que não era para a pele como era esta, é mais para o estômago e para outras coisas (informante).
Tratamentos/ caracterização de utentes
Utilização local (freguesia), recolha de água para posteriores lavagens ao domicilio. 
Eu já tenho oitenta e tal anos… quando eu tinha 25 ou 30 anos é que andava aqui esse movimento. Davam aqui muitos banhos, tinham casa, tinham banheiras, tinham tudo. Mas agora não dá mais proveito nenhum (informante).

Instalações/ património construído e ambiental
Sarzedas (1906) descreveu os balneários como modestos “ mas muito limpos e cuidados”, era um edifício em madeira, que contava com 3 banheiras de 1ª Classe (em azulejo) 3 para 2ªClasse (em cimento), 3 banheiras em folha para a 3ª Classe, e duas banheiras de madeira para os banhos de 4ª classe. 
Almeida (1988) referiu duas nascentes: a da fonte Santa e uma outra, do outro lado do ribeiro, que se atravessa por pontão, na propriedade do Sr. Severino da Silva Canucho, na sua visita (1971) encontrou ainda banheiras. 
Actualmente a Fonte Santa ou Água da Pele, emerge debaixo de grande protecção circular em cimento, com cerca de 2,5m de diâmetro, num recanto sai de uma pequena bica em metal, um pequeno caudal de água que cai numa pia, onde deposita o farfalho branco das águas sulfúreas.
Toda a propriedade onde se localizavam os balneários, encontra-se vedada, cheia de mato e silvado: É todo esse arvoredo, lá no fundo havia um moinho que também é pertença daqui, isto está tudo rodeado com esteiros, assim como regatos de água (informante).  

Natureza
São límpidas, transparentes, inodoras e de sabor levemente salgado, brotando à temperatura de 18º . a análise química, feita em 1881, classificou estas águas como: hipossalinas, hipotermais, cloretadas sódicas, sulfatadas cálcicas e magnesianas e siliciosas.” (Águas e Termas, 1918,98) . refere-se a uma análise do químico Von Bonshort.
Sulfúreas cálcicas, cloretadas sódicas, magenesianas, siliciosas, hipomineralisadas (0,20g) frias (18º) (Correia, 1922).
Sulfúrea sódica fluoretada hipotermal (Almeida, 1988).    


Alvará de concessão
Alvará de 5/121893 – passado a favor da Empresa de Águas de S.Pedro da Torre
1925, 27 de Agosto – alvará de Transmissão, publicado DG nº45 de 24/2/1926

Historial

Lopes (1893) depois de referir que eram utilizadas desde “longínquas datas”, acrescenta os tipos de tratamentos: “Usam-se em banho ou lavagens, e mais geralmente em bebida na dose de meio decilitro, uma hora depois do almoço e do jantar. Este tratamento deve ser continuado pelo menos durante 15 dias, nos quais se guardará cuidadosa dieta. Pode ser feito longe da nascente, pois que ali as águas são exportadas em garrafas” (369) 
O guia publicado pela Sociedade de Propaganda de Portugal, em 1918, tem o seguinte texto:  “Na região desde remotos tempos têm sempre sido denominadas estas águas como águas da pele, o que dá a ideia de quais as doenças a que são aplicáveis. A nascente é só uma, a qual abastece o balneário, captadas as águas para um reservatório fechado, que se encontra junto do estabelecimento […] O seu uso aplica-se ao curativo de doenças de pele, escrofulismo e úlceras, sendo a respectiva época termal de 1 de Junho a 31 de Outubro, e a frequência regulando pela média dos 200 doentes.
A instalação termal é modesta, mas de rigorosa limpeza e esmeradissimamente cuidada em todas as suas dependências. O edifício é de três pavimentos, com banheiras de azulejo, cimento, folha de ferro e madeira, conforme as diversas classes de banhistas. A salubridade do local é de primeira ordem, e a habitacional muito apreciável.  (Águas e Termas, 1918,98)  
Acciaiuoli (1944,IV) refere como primeiras referencias as do Dicionário Corográfico (1866) de José Avelino de Almeida. Ao que se segue a menção pelo Eng.º Schiappa de Azevedo em 1867, no seu relatório sobre as nascente hidromedicinais da comissão nomeada pelo Governo de quem também fazia parte o médico Agostinho Lourenço. Classificando-as como sulfúreas termais. (cit.Acc.44,II,168).
Curiosamente em 1883, consegue o registo de “uma patente de invenção, com privilégio de 15 anos, da exploração, com emprego terapêutico” (Acciaiuoli, 1944,IV,253). Recorde-se que a Lei das águas minerais só foi publicada em Setembro de 1892.
A vistoria de 1915 descreve ao pormenor este estabelecimento, terminando com as seguintes palavras: “Dizem-me que na época termal tudo está muito limpo, o que acredito, mas, na ocasião da minha visita, fiquei horrorizado com o que vi e custa-me a crer que alguém frequente tal pocilga” (Acciaiuoli, 1944,IV,255).  
Passado 8 anos nova visita de vistoria, mas o estabelecimento estava encerrado, pois o contrato de arrendamento terminara nesse ano, e Câmara de Valença, concessionária da exploração, não abrira ainda novo concurso, mas o inspector comentou: “é tal porém, o Estado em que o Estabelecimento se encontra a respeito de higiene, conforto e segurança, etc., que o que merece é inutiliza-lo, arrancando-o por completo e, no lugar dele, fazer outro, posto que pequeno, mas que satisfaça” ” (Acciaiuoli, 1944,IV,256).       
Embora pagando os eus impostos ao Estado, o concessionário não tem a nascente em exploração” (Anuário, 1963).
Na visita em 1970 de Almeida (1988), ficamos a saber que o balneário já não existia, mas: “no local ainda existem as banheiras”. Relacionou outra nascente numa propriedade de Severino da Silva Canucho, a 150m, na outra margem do ribeiro, de igual natureza da fonte da pele.
Actualmente toda a zona onde se localizam as emergências desta água sulfúrea é propriedade da Câmara de Valença, separados por cerca de arame de mato e silvado denso, num recanto no exterior desta cerca encontra-se a nascente da Água da Pele ou fonte Santa.       
A exploração balneoterápica terá cessado no inicio da década de 60, os seus proprietários emigraram para a Venezuela, na primeira metade dessa década, deixaram de pagar o imposto anual de exploração, o que veio a terminar numa venda em hasta pública, como nos relatou Arminda da Fonte Santa, uma octogenária de boa saúde, vizinha da nascente: Pagavam quinhentos escudos.. eu chamou-lhe a décima,… os impostos, ou lá o que é. Como ela não dava resultado nenhum, deixaram de pagar, foi para relaxe, veio no Jornal que se vendia a água… Ninguém pegou , vendiam também o terreno, não houve quem lhe pegasse ,e agora  a Câmara diz que tomou conta dela, está lá escrito na Câmara e é da Câmara.
 A propriedade terá cerca de 10 hectares, onde cresce desordenado um bosque de pinhal e eucaliptos e muito mato, o como disse a nossa informante:  está todo rodeado com mato, arvoredo, eles não se importam não cortam isto, e também aqui não há quem se interesse bem, senão davam parte à Câmara e  eles eram obrigados a limpar isto. Aqui um incêndio até pode dar … eu sei lá….  
Quanto a projectos Termais da Câmara Municipal, não me parece que os haja, porque como disse Arminda da Fonte Santa: é preciso miles e miles e miles… mais centos de miles.

Bibliografia

Acciaiuoli: 1936; 1937; 1940; 1941; 1942; 1944; 1947; 1948a;  1948b; 1949-50; 1953. Almeida 1988, Alves1860, Bornstorn 1881, Calado 1995, Contreiras 1951, Correia 1922, Lopes 1892, Sarzedas 1907, Águas minerais do continente e Ilha de S.Miguel 1940, Águas e Termas Portuguesas 1918, Anuário Médico-hidrológico de Portugal 1963.


                                                    Antigas termas da Fonte Santa em S. Pedro da Torre